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A lei de desmatamento da UE foi aplaudida aqui. Especialistas e agricultores brasileiros estão céticos

Jul 18, 2023

A nova lei da UE que proíbe as importações de produtos que provocam a desflorestação foi aplaudida por pessoas em todo o continente, mas do outro lado do Atlântico, crescem os receios de que terá um impacto desproporcional nos pequenos agricultores e levará à desflorestação em áreas menos protegidas.

A lei de desflorestação da UE, que garantiu a sualuz verde final em maio, exigirá que os produtores de gado, cacau, café, óleo de palma, soja, borracha e madeira apresentem provas de que a sua cadeia de abastecimento está totalmente livre de desflorestação.

Saber de onde vêm os produtos que consumimos e garantir que toda a sua cadeia de abastecimento está livre de desflorestação é atualmente uma prioridade máxima para muitos consumidores. De acordo com uma pesquisa realizada pela Globescan em 2022, 78% dos europeus acreditam que os governos deveriam proibir produtos que impulsionam o desmatamento.

Mas teme-se que os novos requisitos tecnológicos para a exportação representem um encargo financeiro adicional para os pequenos produtores, que são muitas vezes mais sustentáveis ​​do que os grandes agricultores, para demonstrarem os seus padrões ambientais. No final, poderá ser mais fácil para eles simplesmente deixarem de exportar a sua produção para a Europa.

“A legislação é muito boa para evitar que os países europeus consumam produtos associados ao desmatamento, mas não necessariamente na redução do próprio desmatamento. Trata-se mais de se livrar do problema do que de resolvê-lo", disse Olivia Zerbini Benin, investigadora do IPAM, uma organização sem fins lucrativos brasileira, à Euronews.

Para exportar para a Europa, os agricultores brasileiros precisarão fazer upload de dados de rastreabilidade, incluindo coordenadas GPS, que serão mapeadas em fotos de satélite de fazendas e florestas, entre outros documentos.

As inspeções serão realizadas de acordo com o nível de risco atribuído a cada país: para aqueles considerados de alto risco, serão verificadas até 9% das exportações. Embora a regulamentação tenha sido aprovada em maio, as empresas têm até dezembro de 2024 para se adequarem às novas regras, e muitos detalhes sobre como será a aplicação ainda serão determinados.

O bloco europeu é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, e o país latino-americano é o maior exportador de produtos agrícolas para a UE, por isso não é surpresa que o seu ministro da Agricultura, Carlos Favaro, tenha criticado fortemente a nova lei europeia de desmatamento logo após a sua aprovação, chamando-a de “uma afronta” ao comércio internacional.

Mas, segundo agricultores e especialistas, o impacto da regra não é apenas político. Argumentam que existe um risco de impacto social se a lei impor barreiras às quais apenas os grandes agricultores se podem adaptar.

“Como é que vão exigir este nível de rastreabilidade se não dão condições para que a produção seja regularizada? Os agricultores precisam de apoio técnico tanto para identificar os estrangulamentos como para regularizar a sua cadeia de abastecimento. Eles precisam de um tipo de assistência que não existe hoje, e as pequenas propriedades certamente serão as mais afetadas”, disse Caio Penido, produtor e presidente do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), que representa os pecuaristas de Mato Grosso. Grosso, maior estado produtor de carne bovina do país.

Mesmo entre os ambientalistas brasileiros, a nova lei do desmatamento está sob escrutínio. Olívia Benin, que faz parte de uma organização científica sem fins lucrativos que trabalha com políticas públicas para proteção dos ecossistemas brasileiros, acredita que as novas diretrizes são um passo na direção certa, mas deveriam ter sido construídas coletivamente com os países mais afetados.

Especialista em comércio internacional e desenvolvimento sustentável na Amazônia, com ênfase na relação Brasil-União Europeia, Benin argumenta que, embora a nova legislação tenha boas intenções, sua capacidade de reduzir a perda de árvores no Brasil é limitada.

“É ótimo ver os países começarem a questionar o que consomem e de onde vem, mas os efeitos no Brasil são limitados porque grande parte do desmatamento acontece em áreas que não são cobertas pela nova lei”, disse o pesquisador.